quarta-feira, 18 de julho de 2007

OUTRO CONTO-POETICO

BENJAMIM
VAI PARA A GUERRA



I

Quando eu estiver vivendo a idade que tenho e a minha porta um dia desses qualquer, um emissário trouxer o chamado para o combate, será que minha vontade de seguir vivendo por brincadeira não me fará procurar abrigo seguro contra responsabilidades?

Quando souber que não cultivo a discórdia no coração e, mesmo vendo que me preparo para embarcar nessa sua guerra como quem aceita ser vestido para o próprio velório, será que em nenhum instante se colocará em oposição a tudo, por saber haver claros sinais de incertezas no que me reserva o destino?

Quando vir minha mãe aos prantos pelos cantos da casa, ao saber que seu filho mais novo logo partirá com tantos outros inocentes, sem esperança de retornar vivo e a sua submissão de esposa não for nem de longe páreo para o seu silêncio, será que ainda permitirá, sem uma gota de remorso sequer, qu´eu abandone fora da mala sonhos que me guiaram até então?

Quando eu estiver cruzando o portão da casa e, minha mãe entregue as lágrimas pedir-lhe de joelhos em clemência a minha permanência, e o Senhor souber que talvez esteja me vendo pela última vez, será que nem mesmo assim sairá palavra alguma de sua boca que me livre da obrigação de seguir para honrar nossa tradição?

Quando chegar a metade da curva do caminho, se eu parar e olhar para o que ficar para trás, e vocês ainda estiverem na porta me observando, será que nesse exato instante alguém me impedirá de continuar reto rumo ao desconhecido amanhã?

Quando me perderem do alcance dos olhos, o tempo passar, as notícias sobre mim forem escassas e desencontradas e os dias se seguirem como hiatos invernos, será que alguém correrá mundo afora em disparada para tentar meu resgate?

Minhas palavras valerão de alguma coisa, se o seu silêncio é quem mais me ensurdece? Estou perdido dentro de mim. Estou assim e nada me faz diferente.
Minhas palavras valerão de alguma coisa, se o destino me acolheu cordeiro do que não acredito? Estou vagando no escuro das palavras e nada me ilumina uma saída. Ah, cruel destino.

Minhas palavras.... inúteis palavras posto que, o seu silêncio é ainda quem diz tudo. E diz nada.

Sinto muito, não sou como o Senhor. Não sou o Senhor.
( ... )

II

Quanto eu estiver na linha de fogo esperando com o inimigo o pior dos dias e, então ele cair sobre mim, faminto, como urubu em carniça, será que terei forças para suportar o ataque massivo de sua pesada infantaria?

Quando o sangue, o suor e o medo dominarem o olhar do meu algoz e correndo até mim ele vier como onda em ressaca de mar e com seu sabre frio perfurar o meu corpo assustado e inerte, será que ele poupará minha vida depois de eu ter tido ferido minha honra e perdidas estejam minhas ilusões?

Quando enfim, acontecer o blecaute e eu for levado para um campo de concentração como um animal ferido ao seu matadouro, será que pensarei em algo de bom em meio ao tudo para apagar da memória toda a maldade então presente?

Quando eu estiver acorrentado em minha cela e só, à espera do chamado da morte e ela for, a cada dia, a cada instante, a cada suspiro, a cada gota de sangue derramada, mais e mais lugar comum, e então eu perceber minha hora se aproximando como uma tempestade no deserto, será que em nenhum instante questionarei haver justiça em ser sacrificado pelo que não acredito?

Quando então estiver diante de meu purgatório e eu covardemente negar minha bandeira e meu país, largar minhas armas para fugir da dura obrigação a mim apresentada, será que esse não se tornará o momento mais importante de minha curta historia de vida?

Minhas lágrimas valerão alguma coisa, se no seu conceito de nobreza, o homem não chora? Pois bem, Meu Senhor, estou caindo agora em mim. Estou caindo e ainda assim a certeza do chão não me aquece.

Minhas lágrimas valerão alguma coisa, se o caminho que se apresenta a minha frente é árduo e espinhoso? Estou divagando sobre o absurdo das impossibilidades e nada me encaminha para uma saída. Ah, cretino destino.

Ah, minhas lágrimas.... Inúteis, posto que, o seu sorriso é ainda quem comando tudo. E me permite nada.

Sinto muito, não quero ser como o Senhor. Não. Já me custa ser eu mesmo. Alguém que se perdeu nesse meio mundo.

Sinto muito...
( ... )





III

Quando eu estiver voltando para esta casa, cheio de marcas e cicatrizes pelo meu corpo e com nenhuma medalha no peito, será mais longo o caminho de volta do que, quando cheio de desânimo fui para a guerra.

Quando eu fizer o caminho inverso e, cada passo me deixe mais perto de casa e só a vergonha for a minha cruz, será que terei coragem de voltar para o que deixei em troca do tão pouco que ganhei?

Quando eu chegar à frente de sua casa e a porta estiver aberta apenas aos homens de honra e, para oferecer só tenha minhas mãos vazias, será que darei meia-volta e fugirei em busca da vala comum dos mortos em vida?

Quando eu estiver diante do Senhor e souber que não venci na vida que para mim planejou, e não mais terei como esconder o fracasso em meu olhar, será que mesmo assim me entenderá e me dirá sem palavras que apesar de tudo, ainda me aceitará como parte sua?

Quando eu disser que sinto muito por não ser quem o Senhor sonhou qu’eu fosse, que mesmo tento lutado mesmo contra a minha vontade como ninguém jamais lutou, e que ainda assim não cheguei à parte alguma, será que mesmo assim me culpará por não ter conseguido repetir seus sucessos?

Ah, quando será tarde para reconhecer agora que não preciso nada além do seu respeito, do seu carinho? Será que terei que partir para morrer no sabre sujo de um cruel inimigo de passagem?

Ah, Senhor Meu Pai, preciso mesmo partir!?