sexta-feira, 9 de março de 2012

FORTITUDINE




É tudo uma verdade
Que criei?
Pode ser
E também não.
Mas, não tenho medo de ser a verdade
Menos interessante que a mentira.

Afinal,
Duas guerras, muito sangue,
E o inimigo ainda vive.
E quem bebe da ilusão presente
De que a dor agora passou
Não percebe que minha história,
Um dia formidável,
Pela casa caminha cansada,
Conversando pelos cantos
E esconderijos
Pontiagudos da casa
Com o passado morto.

E pensar que
Muitos amanhecer atrás
Bem antes da criança virá este monstro,
Eu gritava a plenos pulmões
Que juventude e um sonho possível
Era tudo o que se precisava
Para se andar de mãos dadas
Com a felicidade
- E até mesmo ser feliz.
Sim eu gritava.
E como gritava,

Quando jovem eu gritava.

Mas,
Veja só, os ventos mudaram,
E as pontes caíram,
E as estradas bloquearam,
E os heróis tombaram,
E os anos se seguiram mortos
Sem uma gota sequer do orvalho matinal
Como lembrança do sereno noturno
E sua solidão.

E os anos se seguiram noite.

Não por menos o que era certeza deixou de ser
A sombra da sombra do que um dia fora.

Mas,
Também quando criança
Ouvi minha mãe dizer,
Enquanto penteava meus cabelos,
Que queria para mim uma vida melhor
Que a que meu pai nos dera.
Meu pai, ao contrario da correnteza,
Queria que fôssemos parecidos,
Enquanto que eu, eu,
Eu queria apenas ficar
Com o meu kit básico criança feliz,
Com bila, bola, peão, pipa
E uma tarde ensolarada.

Era isso o que queria.
Nunca quis mais e
Nunca quis menos.

E agora, olhando para tudo o que tenho,
Tudo o que me é certo e também o inconstante,
Tudo o que me falta e o que não mais terei,
Tenho conforto na grata sensação que cada uma
Das quedas que tive, e mais ainda nas que terei,
Por ter aprendido que dor é a matéria-prima da alma.

Mesmo em uma alma como a minha
Que aspirou apenas
Existir.