terça-feira, 25 de dezembro de 2007

MEMÓRIAS DE FUTURO

Meu pai olhou para minha mãe e disse:
Quando éramos anjos
Era nos despindo que nos tornávamos
Deuses,
Agora que somos deuses
É nos vestindo que nos tornamos
Anjos.
Minha mãe olhou para meu pai e sorriu.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

OUTRO CONTO-POETICO

BENJAMIM
VAI PARA A GUERRA



I

Quando eu estiver vivendo a idade que tenho e a minha porta um dia desses qualquer, um emissário trouxer o chamado para o combate, será que minha vontade de seguir vivendo por brincadeira não me fará procurar abrigo seguro contra responsabilidades?

Quando souber que não cultivo a discórdia no coração e, mesmo vendo que me preparo para embarcar nessa sua guerra como quem aceita ser vestido para o próprio velório, será que em nenhum instante se colocará em oposição a tudo, por saber haver claros sinais de incertezas no que me reserva o destino?

Quando vir minha mãe aos prantos pelos cantos da casa, ao saber que seu filho mais novo logo partirá com tantos outros inocentes, sem esperança de retornar vivo e a sua submissão de esposa não for nem de longe páreo para o seu silêncio, será que ainda permitirá, sem uma gota de remorso sequer, qu´eu abandone fora da mala sonhos que me guiaram até então?

Quando eu estiver cruzando o portão da casa e, minha mãe entregue as lágrimas pedir-lhe de joelhos em clemência a minha permanência, e o Senhor souber que talvez esteja me vendo pela última vez, será que nem mesmo assim sairá palavra alguma de sua boca que me livre da obrigação de seguir para honrar nossa tradição?

Quando chegar a metade da curva do caminho, se eu parar e olhar para o que ficar para trás, e vocês ainda estiverem na porta me observando, será que nesse exato instante alguém me impedirá de continuar reto rumo ao desconhecido amanhã?

Quando me perderem do alcance dos olhos, o tempo passar, as notícias sobre mim forem escassas e desencontradas e os dias se seguirem como hiatos invernos, será que alguém correrá mundo afora em disparada para tentar meu resgate?

Minhas palavras valerão de alguma coisa, se o seu silêncio é quem mais me ensurdece? Estou perdido dentro de mim. Estou assim e nada me faz diferente.
Minhas palavras valerão de alguma coisa, se o destino me acolheu cordeiro do que não acredito? Estou vagando no escuro das palavras e nada me ilumina uma saída. Ah, cruel destino.

Minhas palavras.... inúteis palavras posto que, o seu silêncio é ainda quem diz tudo. E diz nada.

Sinto muito, não sou como o Senhor. Não sou o Senhor.
( ... )

II

Quanto eu estiver na linha de fogo esperando com o inimigo o pior dos dias e, então ele cair sobre mim, faminto, como urubu em carniça, será que terei forças para suportar o ataque massivo de sua pesada infantaria?

Quando o sangue, o suor e o medo dominarem o olhar do meu algoz e correndo até mim ele vier como onda em ressaca de mar e com seu sabre frio perfurar o meu corpo assustado e inerte, será que ele poupará minha vida depois de eu ter tido ferido minha honra e perdidas estejam minhas ilusões?

Quando enfim, acontecer o blecaute e eu for levado para um campo de concentração como um animal ferido ao seu matadouro, será que pensarei em algo de bom em meio ao tudo para apagar da memória toda a maldade então presente?

Quando eu estiver acorrentado em minha cela e só, à espera do chamado da morte e ela for, a cada dia, a cada instante, a cada suspiro, a cada gota de sangue derramada, mais e mais lugar comum, e então eu perceber minha hora se aproximando como uma tempestade no deserto, será que em nenhum instante questionarei haver justiça em ser sacrificado pelo que não acredito?

Quando então estiver diante de meu purgatório e eu covardemente negar minha bandeira e meu país, largar minhas armas para fugir da dura obrigação a mim apresentada, será que esse não se tornará o momento mais importante de minha curta historia de vida?

Minhas lágrimas valerão alguma coisa, se no seu conceito de nobreza, o homem não chora? Pois bem, Meu Senhor, estou caindo agora em mim. Estou caindo e ainda assim a certeza do chão não me aquece.

Minhas lágrimas valerão alguma coisa, se o caminho que se apresenta a minha frente é árduo e espinhoso? Estou divagando sobre o absurdo das impossibilidades e nada me encaminha para uma saída. Ah, cretino destino.

Ah, minhas lágrimas.... Inúteis, posto que, o seu sorriso é ainda quem comando tudo. E me permite nada.

Sinto muito, não quero ser como o Senhor. Não. Já me custa ser eu mesmo. Alguém que se perdeu nesse meio mundo.

Sinto muito...
( ... )





III

Quando eu estiver voltando para esta casa, cheio de marcas e cicatrizes pelo meu corpo e com nenhuma medalha no peito, será mais longo o caminho de volta do que, quando cheio de desânimo fui para a guerra.

Quando eu fizer o caminho inverso e, cada passo me deixe mais perto de casa e só a vergonha for a minha cruz, será que terei coragem de voltar para o que deixei em troca do tão pouco que ganhei?

Quando eu chegar à frente de sua casa e a porta estiver aberta apenas aos homens de honra e, para oferecer só tenha minhas mãos vazias, será que darei meia-volta e fugirei em busca da vala comum dos mortos em vida?

Quando eu estiver diante do Senhor e souber que não venci na vida que para mim planejou, e não mais terei como esconder o fracasso em meu olhar, será que mesmo assim me entenderá e me dirá sem palavras que apesar de tudo, ainda me aceitará como parte sua?

Quando eu disser que sinto muito por não ser quem o Senhor sonhou qu’eu fosse, que mesmo tento lutado mesmo contra a minha vontade como ninguém jamais lutou, e que ainda assim não cheguei à parte alguma, será que mesmo assim me culpará por não ter conseguido repetir seus sucessos?

Ah, quando será tarde para reconhecer agora que não preciso nada além do seu respeito, do seu carinho? Será que terei que partir para morrer no sabre sujo de um cruel inimigo de passagem?

Ah, Senhor Meu Pai, preciso mesmo partir!?

quarta-feira, 27 de junho de 2007

CÃO SEM DONO

SERÁ QUE UM DIA ELE VOLTA
SERÁ QUE A FÉ REMOVE MONTANHAS,
MAIS UM PAI FOI EMBORA
ENTREGOU OS FILHOS A SORTE
DEUS ESCREVE TORTO POR LINHAS FERREAS
MAS OS ANJOS ESSES CARAS
FELIZES DELES VÃO EMBORA QUANDO QUEREM OS ANJOS
FELIZES DESSES CARAS VÃOS...
UM NOVO TEMPO APESAR DOS CASTIGOS
UM NOVO TEMPO,
MAS AS MESMAS AS MESMAS ILUSÕES
SERÁ QUE UM DIA ELE VOLTA
UM DIA SEU OLHAR DE NOVOPARA O MEU LUGAR
AGORA QUE SOU CÃO SEM DONO
DEMÔNIO SEM INFERNO, DUVIDOAGORA QUE SOU O MAU LADRÃO
FRIO SEM INVERNO, DUVIDO
QUE VOLTE

sexta-feira, 15 de junho de 2007

NEUZA SOLO

Antes todos vinham, agora todos se vão. Não há mais caminho até ali apenas imensos espaços vazios e Neuza prepara o almoço de domingo sem certeza se alguém ainda venha lhe fazer companhia. O tempo passa, nada acontece.
Ela primeiro põe na mesa as 300g de farinha de trigo. Depois faz uma cavidade no meio e coloca, aos poucos os três ovos levemente batidos e a xícara de água, junta sal, misturando bem até chegar a uma massa rija. Ah, quantas vezes fez isso em tantos bons domingos. E como eram bons aqueles tempos em que a família toda se reunia. Quanta saudade. Segue a receita. Divide a massa em duas partes e então estende por igual uma de cada vez sobre a mesa com um pouco de farinha. Em seguida, coloca mais um pouco de farinha de trigo sobre a massa e começa a espalhar com a mão a massa. As lembranças descem junto com as lágrimas e se misturam com a massa de macarrão. Ela nem percebe e segue preparando o almoço de domingo. Enrola a massa e na medida certa, corta na largura ideal. Desenrola as tiras e deixa para seca em uma tábua. Tantas foram as vezes que fez isso que consegue repetir até com os olhos fechados. Um sorriso de canto de boca ilumina seu rosto, a massa está pronta.
Por onde anda seu filho predileto? Será que lembra do amor a ele devotado? As meninas como dormem e acordam? O mais novo já terá mudado o mundo? O mais rebelde dos filhos já se achou perdido? E Neuza caminha pela casa pensando que dividir é melhor ainda do que perder de vez.
Ela cozinha em água e sal o macarrão. Enquanto isso prepara o molho. Leva ao fogo uma panela com óleo. Junta depois os enroladinhos de alcatra até dourar. Sua vida passa pela sua mente. Lembra de quando sua mãe lhe ensinou a fazer a mesma macarronada, do jeito certo e com os ingredientes certos. Retira os pedacinhos de alcatra e reserva. Pica a cebola e o alho e despeja na panela. O vapor sobe e o cheiro forte perfuma a casa de saudade. Ela fecha seus olhos e agora volta ao dia em que conheceu o seu marido. Lembra de como ele era bonito e engraçado. Lembra do comentário de sua mãe sobre aquele rapaz simpático. Lembra que seus olhares se encontraram e nunca mais se perderam. Quando a cebola e o alho alouram adiciona os tomates. Lembra que no dia em que casaram choveu forte. Lembra que foi depois da formatura de ambos. Fazia tanto tempo e no entanto, tudo tão presente, mesmo com tantas ausências. Os tomates se desfazem e a massa de tomate é refugada por alguns minutos. Passa os tomates por uma peneira para retirar as peles e as sementes. Junta novamente os enroladinhos de alcatra ao molho e deixa tudo cozinhar. Tudo precisa tempo para chegar ao ponto certo.
Quando o macarrão fica pronto ela mistura com presunto picado pedaços de ovos cozidos e uma xícara de leite. Coloca então em uma travessa. Tantos almoços foram assim. O mesmo ritual. Só que antes havia o barulho das pessoas dentro de casa. Havia a música de cada um. Havia a vida dos móveis, dos pratos, dos talheres enfim, de todas as coisas que habitam uma casa. Agora só silêncio que nem o barulho dela trabalhando conseguia sufocar. Então ela despeja por cima do macarrão o molho de tomate. Polvilha com um pouco de queijo ralado e espera os convidados para o almoço de domingo.
A casa aumentou de tamanho (a poeira já nem incomoda) e há saudade do que ficou esquecido pelo caminho. Até mesmo a dor doía menos quando se tinha com quem dividi-la. Agora as lágrimas descem pelo seu rosto e se perdem no esquecimento. E Neuza serve o almoço de domingo sem esperança que alguém queira lhe trazer alegria. O tempo voa e se repete e depois se perde.
Marido, filhos, netos, vizinhos, todos ocupados vivendo suas vidas em disparada. Mas sempre atrasados. E Neuza sozinha lembrando que dividir é melhor ainda que esquecer de vez.
Antes todos vinham, agora, agora tantos vãos. E Neuza se deita na cama esperando a hora de alguém vir buscar o seu corpo frio.

sábado, 9 de junho de 2007

sobre amore dentro de amarios

eu já te amei sim, agora esquece
eu já te amei assim, mais que a mimeu já chorei,
eu já sofrimas sobrevivi pra contareu sobrevivi
por amar mais a vocêque a mim mesmo
eu já te amei sim, e havia um tempo
que pensei que não importava amarmas
importava sim, eu amei.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

MARIANA, MARIANA, um conto para Nuely Camilo

MARIANA, MARIANA


“Foi apenas uma parte sua, não foi você por inteira. Ninguém tem culpa de nada, não se culpe tanto”.
Mariana sabe que o preço da vida é viver e o da morte se entregar. Conta os mortos e feridos nas batalhas que defendeu e perdeu. É difícil não querer se render aos prantos. Sozinha no calor do dia, caminha entre escombros da casa que moravam seus sonhos desde criança. Chorar até que lhe é permitido e há razões de sobra para tanto. Mas não para ela que é guerreira e não se deixa mostrar sofrendo, não se entrega, não se entrega.
“O vaso quebrado pode ser colado mesmo que saibam que nunca mais será o mesmo. E daí? Nada é perfeita perfeição”.
Mariana sabe que bondade é rua estreita e maldade se encontrar em qualquer esquina. Conhece bem as cercas de arame farpado na entrada de seu paraíso, porque sentiu na pele cada corte. Pára e olha ao redor, nada do que era permanece ainda e até mesmo o céu às vezes parece ameaçar desabar. Desistir é o que se espera, todos os rios descem para o mar, mas outros dependem delam para continuar. E então, por si mesma e pelos outros, não se entrega a dor.
“Ninguém nunca poderá macular a sua imagem. À parte que deceparam do seu corpo não faz de você menor ou menos mulher. Você é linda e perfeita e não há nada que mostre o contrário e você, você está viva, viva!”.
Mariana sabe que, se o ontem não mais existe talvez seja porque o amanhã a ela pertença. No meio do pesadelo acorda para a estrada tanta ainda para se trilhar. Recolhe do chão o que o destino desfez. Pedaço por pedaço até se recompor e, antes mesmo do dia anoitecer a noite, segue, segue em busca de tudo seu uma outra vez. Porque ela é assim e pronto.
“Levante a cabeça, seu câncer lhe pegou de forma violenta, mas não o suficiente para matar o que tem de melhor, sua vontade e sua capacidade de viver. Você só perdeu os seios, com o tempo se acostumará a viver sem eles. Você é mais que tudo isso. Não chora, não. Vem, me abraça agora, tudo passa, sempre passa”.

terça-feira, 5 de junho de 2007

ETHAN, ELLA FITZGERALD E UM DIA VERDE

Ela abriu a porta. Ele entrou. Ela fechou a porta. Ele esperou. Ela lhe tocou o rosto. Ele gelou. Ela entendeu. Ele sorriu. Ela tinha trinta. Ele dezesseis. Era pecado. Era errado. Era isso. Era aquilo. Ela queria. E ele então!

Ela teve medo de seguir. Ele temia não ser verdade. Ela continuou. Ele deixou. Ela pós Ella Fitzgerald. Ele preferia Green Day. Ela dançou para ele. Ele a acompanhou com o olhar. Ela lhe beijou a boca. Ele viajou. Ela era fogo por dentro. Ele tremia de emoção. Ela sabia o que fazer. Ele se deixou levar. Ela abriu o sinal. Ele avançou. Era desejo. Era preciso. Era sonho. Era realidade. Ela estava ali. Ele também.

E então aconteceu.




Ela abriu a porta. Ele saiu. Ela disse adeus. Ele sorriu. Ela lhe puxou pelo braço. Ele voltou. Ela lhe beijou a boca. Ele se entregou. Ela agora tinha dezesseis. Ele bem mais que isso. Ela tinha mudado. Ele estava nas nuvens. Era estranho. Era normal. Era devasso. Era divino. Ela o queria. Ele a teve.

E então se despediram no portão da casa dela, em meio a uma chuva fina que caia despretensiosa.

Ele correu feito um louco, comemorando na chuva. Ela sorriu da situação, tanto que só pensaria nas conseqüências de tudo que houve depois. Bem depois.

O ALIENIGENA

(claudio alving)

Em um dia de muito frio
Brinco de sete pecados
Com meu céu estrelado
Tentando por coincidência
Tropeços em moedas perdidas
Contentando-me, entretanto.
Na observação atenta
Da paisagem do meu continente
E descubro de passagem
Que há lugares que me lembrarei
E outros que deixarei pelos cantos
E assim continuarei fingindo
Desconhece-los por completo
Como partes de mim.

Hei, você não percebe,
Está aberta a tempo de caça
Aos cavalos-marinhos do aquário
Pegue seus sonhos perdido
E vamos também à busca
Do tempo adormecido.

Hei, não é estranho,
Não sei nada de você
E vice-versa
Mas esse sou eu,
Prazer em conhecê-lo
Sou, como você
Um outro alienígena
Saindo do abrigo subterrâneo.

Então, não tenha tanto medo de mim,
Sou mais uma brincadeira do destino,
Do seu destino.

(E segue o frio..).

O CIRCO DO PALHAÇO SEM GRAÇA

O CIRCO DO PALHAÇO SEM GRAÇA
Você se foi antes de entender
O real sentido do meu riso.
Só, não zombei de seus sentimentos,
Quem me conhece sabe que não sou disso.
Quando eu blefava no Jogo das Contas de vidro
Diziam que ao menos meus lances eram bons.
Só não gostavam quando passava o efeito,
Quem me conhecia sabia do que precisava.
É que, nem todos que bebem querem ficar bêbados,
Às vezes o ar sufoca bem mais que o necessário.
Nos bares que passo ainda não vendem Prozac
E nem todos que morrem querem morrer sozinhos.
Quando eu ouvia sons da Pior Banda do Mundo,
Diziam que assim estava em igual companhia.
Só não olhavam para a Alice Através do Espelho,
Nem todos que ficavam era por não terem aonde ir.
Então, não entedí o enredo desse drama, amor,
O palhaço chora e quem não rir da sua desgraça?
Mas, quem disse que saio vivo dessa vida?
Quem disse que quero sair?
Você me foi antes de entardecer
O real sentido do meu choro...