segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Zine dedicado aos amigos Isabel Muniz, Fred e Mikaela, Rafael, Juninho e Carol, Marcos Caetano, Diego, Alexandre, Silon, David, e claro, Branquim.
Send me news email: calving@bol.com.br; orkut: Claudio Alving, o cara de vermelho; cartas: Claudio Alving, rua Pacaembu, 80, Parangaba, 60440-020 Fortaleza-CE
Bem que tentou depois da queda se erguer do chão. Mas permaneceu de olhos fechados, pensando no que tudo aquilo significava. E, como QUEM SÓ CONHECE AZEDO SÓ COM MAIS AZEDO SE ADOCICA, nenhum movimento deu para longe daquele lugar. Dormiu e acordou, dormiu e acordou e novamente, dormiu e acordou, até quando apenas dormiu e não mais acordou.
Eu transbordava convicção de que daquela vez, sim daquela vez, encontraria o que tanto procurava, o termino do mais longo dos invernos que já enfrentara em todo o meu viver. E assim, tão logo um novo dia se aproximava de minha morada, deixei abertas as janelas todas, descobertos os móveis todos, devolvi ao armário todos os inúteis casacos, preparei um café para dois e fiquei esperando a confirmação da previsão de tempo bom, céu aberto e cheio das cores da nova estação. Mas como QUEM NASCEU PARA PREGO NUNCA SERÁ MARTELO, o tempo não mudou o céu não abriu, o cinza permaneceu e à minha mesa nem a mais fiel das moscas veio me fazer companhia. Tudo bem, pensei, refarei meus cálculos e quem sabe na próxima vez acerto. É, quem sabe, na próxima.
ROSAS SELVAGENS QUE EU VI






Os tigres selvagens que conheci e os espinhos afiados prontos para ferir e a fumaça de cigarros para o céu a subir e as cercas nos gramados a me inibir, tudo isso e nada além
Incrivelmente perto e totalmente distante fizeram de mim esse oposto do que sempre fui.

Mas se quiser um conselho,
não se preocupa não, eu vou ficar bem,
tenho dois vinténs e ainda espero por alguém.
Não se preocupa não, eu sou alguém e pesando medida por medida eu ainda tenho uma saída,
além do que, comigo e sem mim,
o dia vem e depois vai embora, comigo ou sem mim, a noite vai e depois nada importa.
CAFÉ DO BRASIL
Esta é a sua vida, veja o filme, leia o livro e compre o disco, tudo mais é sonho. Um emaranhado de planos frustrados, andares não alcançados, palavras reprimidas pelo medo de ser tudo possível, medo do que a mudança possa trazer consigo. ACORDA, toma seu café, coma seu pão, beija sua esposa, diga adeus aos seus filhos, espera no ponto, logo seu ônibus vem. ENTRA, obedeça a fila, procura um lugar vazio, horário de pique, trinta e seis sentados, o resto em pé, dê o sinal, desça no ponto, desamassa sua roupa. SENTA, ajeita sua mesa, diga bom dia ao seu chefe, veja o que está em pauta, mostra disposição para o serviço mesmo sabendo ser difícil pisar um degrau mais acima. LEVANTA, fecha gavetas, apaga as luzes, missão cumprida, passa no bar, joga conversa fora, fala das desgraças de cada um, saia na hora, volta pelo mesmo caminho que veio. CHEGA, abra a porta, família jantando em frente da televisão, coma algo requentado e lá pelas tantas, quando as crianças dormirem, faça amor com sua esposa, vira para o lado, pensa no seu dia, DURMA. Esta é a sua vida, ao vivo e em cores ao seu dispor, tudo mais é nada. Afinal, esta é a sua vida, com dos os is que se tem direito, com todos as vírgulas, os travessões, com todas as reticências no ar e um ponto final. Esta é a sua vida, não é mesmo?
Não havia mais amor. Nem carros atrasados cortando a madrugada. Nem o sono dos tranquilos. Nem uma batalha a ser travada na manhã seguinte. Não havia mais amor. Não havia mais nada. Deitados e olhando para um teto pronto a cair sobre suas cabeças, assim como QUEM CONTEMPLA O ABISMO TAMBÉM É CONTEMPLADO POR ELE, abusavam do sagrado direito de não dizerem coisa alguma um para o outro, não havia amor, não havia mais nada mesmo ali. Cansaram-se deles próprios, viraram cada um para o seu lado da cama, esperaram o amanhecer e então cada um seguiu por lados contrários, não olharam para trás, porque para trás não havia mais amor, não, não mais havia.

ELLA FITZGERALD E UM DIA VERDE

Ela abriu a porta. Ele entrou. Ela fechou a porta. Ele esperou. Ela lhe tocou o rosto. Ele gelou. Ela entendeu. Ele sorriu. Ela tinha trinta. Ele dezesseis. Era pecado. Era errado. Era isso. Era aquilo. Ela queria. E ele então!
Ela teve medo de seguir. Ele temia não ser verdade. Ela continuou. Ele deixou. Ela pôs Ella Fitzgerald. Ele preferia Green Day. Ela dançou para ele. Ele a acompanhou com o olhar. Ela lhe beijou a boca. Ele viajou. Ela era fogo por dentro. Ele tremia de emoção. Ela sabia o que fazer. Ele se deixou levar. Ela abriu o sinal. Ele avançou. Era desejo. Era necessidade. Era sonho. Era realidade. Ela estava ali. Ele também.

E então aconteceu.

Ela abriu a porta. Ele saiu. Ela disse adeus. Ele sorriu. Ela lhe puxou pelo braço. Ele voltou. Ela lhe beijou a boca. Ele se entregou. Ela agora tinha dezesseis. Ele bem mais que isso. Ela tinha mudado. Ele estava nas nuvens. Era estranho. Era normal. Era devasso. Era divino. Ela o queria. Ele a teve.
E então se despediram no portão da casa dela, em meio a uma chuva fina que despretensiosamente caia.
Ele correu feito um louco, comemorando na chuva. Ela sorriu da situação, tanto que só pensaria nas consequências de tudo que houve depois. Bem depois.
Veio desde longe procurando olhar dentro do meus olhos, não tive como não tentar olhar nos seus tambem. Chegou bem perto sorrindo de tudo e de coisa alguma, não tive como não sorrir também. E quando todo o seu bloco foi passando por mim, imóvel contemplei seu desfile, desde o primeiro até o último instante. E sem palavras, não existiam palavras que traduzissem meus sentimentos, apenas um sorriso sonso, tímido, tonto e triste, continuei lhe observando sair de minha vida. Volta e meia ainda olhava para trás e me sorria, talvez esperando que eu fosse ao seu encontro. Também sorri. E só. E talvez porque isso tudo era bom demais para ser verdade e como QUEM ATÉ HOJE SÓ DORMIU COM LOBOS, DESCONFIA ATÉ DO COCHILO DOS CORDEIROS, deixei que dobrasse a esquina, desaparecesse de vez do meu caminho e assim continuasse em meu viver.
Se isso é o que você quer, então tá.
Se o tempo passou, então corre, lá fora deve ser bem melhor do que aqui e minha tristeza só vai piorar as coisas, você merece mais e não posso lhe dá menos.
Se o encanto acabou, não chore, lá longe deve haver melhor lugar que aqui e sua presença só vai adiar nosso adeus, você merece mais e não posso lhe fazer isso.
E se eu morresse hoje ainda amanhã estrelas brilhariam ou, se eu nascesse depois ainda assim o destino se encarregaria de fazer com que você fosse o que de melhor aconteceu na minha vida. Mas, se isso é o que você quer ENTÃO TÁ.