MARIANA, MARIANA
“Foi apenas uma parte sua, não foi você por inteira. Ninguém tem culpa de nada, não se culpe tanto”.
Mariana sabe que o preço da vida é viver e o da morte se entregar. Conta os mortos e feridos nas batalhas que defendeu e perdeu. É difícil não querer se render aos prantos. Sozinha no calor do dia, caminha entre escombros da casa que moravam seus sonhos desde criança. Chorar até que lhe é permitido e há razões de sobra para tanto. Mas não para ela que é guerreira e não se deixa mostrar sofrendo, não se entrega, não se entrega.
“O vaso quebrado pode ser colado mesmo que saibam que nunca mais será o mesmo. E daí? Nada é perfeita perfeição”.
Mariana sabe que bondade é rua estreita e maldade se encontrar em qualquer esquina. Conhece bem as cercas de arame farpado na entrada de seu paraíso, porque sentiu na pele cada corte. Pára e olha ao redor, nada do que era permanece ainda e até mesmo o céu às vezes parece ameaçar desabar. Desistir é o que se espera, todos os rios descem para o mar, mas outros dependem delam para continuar. E então, por si mesma e pelos outros, não se entrega a dor.
“Ninguém nunca poderá macular a sua imagem. À parte que deceparam do seu corpo não faz de você menor ou menos mulher. Você é linda e perfeita e não há nada que mostre o contrário e você, você está viva, viva!”.
Mariana sabe que, se o ontem não mais existe talvez seja porque o amanhã a ela pertença. No meio do pesadelo acorda para a estrada tanta ainda para se trilhar. Recolhe do chão o que o destino desfez. Pedaço por pedaço até se recompor e, antes mesmo do dia anoitecer a noite, segue, segue em busca de tudo seu uma outra vez. Porque ela é assim e pronto.
“Levante a cabeça, seu câncer lhe pegou de forma violenta, mas não o suficiente para matar o que tem de melhor, sua vontade e sua capacidade de viver. Você só perdeu os seios, com o tempo se acostumará a viver sem eles. Você é mais que tudo isso. Não chora, não. Vem, me abraça agora, tudo passa, sempre passa”.
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