quinta-feira, 7 de junho de 2007

MARIANA, MARIANA, um conto para Nuely Camilo

MARIANA, MARIANA


“Foi apenas uma parte sua, não foi você por inteira. Ninguém tem culpa de nada, não se culpe tanto”.
Mariana sabe que o preço da vida é viver e o da morte se entregar. Conta os mortos e feridos nas batalhas que defendeu e perdeu. É difícil não querer se render aos prantos. Sozinha no calor do dia, caminha entre escombros da casa que moravam seus sonhos desde criança. Chorar até que lhe é permitido e há razões de sobra para tanto. Mas não para ela que é guerreira e não se deixa mostrar sofrendo, não se entrega, não se entrega.
“O vaso quebrado pode ser colado mesmo que saibam que nunca mais será o mesmo. E daí? Nada é perfeita perfeição”.
Mariana sabe que bondade é rua estreita e maldade se encontrar em qualquer esquina. Conhece bem as cercas de arame farpado na entrada de seu paraíso, porque sentiu na pele cada corte. Pára e olha ao redor, nada do que era permanece ainda e até mesmo o céu às vezes parece ameaçar desabar. Desistir é o que se espera, todos os rios descem para o mar, mas outros dependem delam para continuar. E então, por si mesma e pelos outros, não se entrega a dor.
“Ninguém nunca poderá macular a sua imagem. À parte que deceparam do seu corpo não faz de você menor ou menos mulher. Você é linda e perfeita e não há nada que mostre o contrário e você, você está viva, viva!”.
Mariana sabe que, se o ontem não mais existe talvez seja porque o amanhã a ela pertença. No meio do pesadelo acorda para a estrada tanta ainda para se trilhar. Recolhe do chão o que o destino desfez. Pedaço por pedaço até se recompor e, antes mesmo do dia anoitecer a noite, segue, segue em busca de tudo seu uma outra vez. Porque ela é assim e pronto.
“Levante a cabeça, seu câncer lhe pegou de forma violenta, mas não o suficiente para matar o que tem de melhor, sua vontade e sua capacidade de viver. Você só perdeu os seios, com o tempo se acostumará a viver sem eles. Você é mais que tudo isso. Não chora, não. Vem, me abraça agora, tudo passa, sempre passa”.

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