domingo, 26 de fevereiro de 2012

NÃO SEI, ACHO QUE NÃO, NÃO É ASSIM QUE FUNCIONA (VERSÃO PROSA)



Ontem passou, aqui estou.

E ainda é como continuar acreditando que o verdadeiro amor irá, assim, milagrosamente, descer do seu décimo andar, pelas escadas, enfrentar o transito, em uma das horas de rush, subir uma ladeira íngreme, estacionar no canteiro central, pisar a grama verde do vizinho, e seu cão feroz, bater a minha porta, debaixo de uma tempestade, esperar pacientemente, e quando eu abrir a porta, com flores e um sorriso de comercial, ainda irá me perguntar se demorou muito.

Mas, não sei, acho que não, não é assim que funciona. Tive dois dedos de prosa com Deus no meu último porre e Ele me falou assim, com seu sorriso perfeito: não sei, acho que não, não é assim que funciona.

E ainda, é como continuar caminhando sem eira nem beira, sorrindo, descaradamente, para o destino a me mastigar, pelas beiradas, caindo e levantando, em uma manada de búfalos, levar um chute no estomago, rastejar sob calor equatorial, encontrar das flores os espinhos, em sua dor o algoz, chegar à minha hora, bem mais cedo que tarde, encarar conscientemente, e quando eu aceitar a derrota, como perdas de um acordo judicial, ainda irei me perguntar se isso foi o bastante.

Porque não sei, acho que não, não é assim que funciona, durante meus dois dedos de prosa com Deus no meu último derrame Ele me descreveu assim, com seu traço perfeito: não sei, acho que não, não é assim que funciono.

Engraçado, até ontem eu acreditava que dor era não ser amado, eu até acompanhava a multidão dos mal-humorados, sim, eu os acompanhava em cada um dos instantes, quando no salão essa moeda era lançada, quando todos entenderam o porquê do sentido anti-horário, e também quando tudo isso perdeu qualquer sentido. Engraçado, até ontem eu acreditava errado, dor não é não ser amado, porque eu amei, sim eu amei, amei a você e a mais ninguém.
Mas e daí, pergunta-me de soslaio o fantasma de Platão, mas e daí, se hoje já passou, se nada mudou.

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