sábado, 28 de maio de 2011

METRÔ RETRÔ

Às vezes, só às vezes, quando o barulho da cidade silencia e é possível ouvir os próprios passos, eu consigo estar com você no mesmo tempo e lugar. Então posso dizer sem medo de errar ou ofender, que sentimos algo bem parecido.
Você vem e fica com as pessoas do lugar. Divide com elas o pouco que tem. Conversa sobre as coisas da vida. Recorda-se de outros que se foram em um passado recente. Sente-se em casa e parte de uma família. Olha para todos os lugares e de repente, para lugar nenhum. Tudo bem e perfeito, tudo infinitamente azul. Tanto que ninguém pensaria em solidão. Ninguém.
Você até observa mais atentamente as luzes das casas apagadas por pessoas que acesas assistem a vidas parecidas com a delas pela televisão. Encanta-se por ver ao longe o movimento de crianças inocentes e inocentes ao momento, brincando em seus parques. Sorrir com um resto de chuva molhando flores de um jardim. Pensa em tudo isso seguindo seu curso normal de segunda-terça-quarta-quinta-sexta-sábado-domingo. E também, que ninguém pensaria em solidão, a sua solidão.
Mas, eu conheço a sua dor, sei o que tem passado para escondê-la dentro da alma. Sei o que tem feito para negá-la a si mesmo. Porque ela se parece tanto com a minha. Quem sabe até sejam a mesma. No entanto, não há nada que se possa fazer além de se lembrar de como tudo era, tentando nunca esquecer no que se tornou. Não há nada que se possa fazer. O tempo não vai e volta, ele apenas vai, não volta. E você não engana a si mesmo e sabe disso. Seus olhos tristes não mentem, solidão é o nome do jogo, mesmo que tudo passe despercebido para os outros. Nenhum de nós dois diz nada, estamos juntos no mesmo bonde. E este ainda está bem longe da sua parada terminal.
Mas depois, quando todo o barulho retorna, muito mais intenso do que antes, e a cidade volta a se agitar, não consigo ouvir mais nada, nada. Ambos nos perdemos no meio de todos. E assim então permanecemos escondidos e nos confundindo com o barulho da cidade.

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