sábado, 28 de maio de 2011

SUÍTE MELANCÓLICA Nº :1 PARA UM HOMEM QUE APARENTEMENTE TEM TUDO

Entre uma dose e outra de cachaça dois bêbados debatiam sobre as ironias da vida. Até aquele momento nada de relevante fora digno de registro. Seguiria assim por mais tempo se o mais sóbrio não elevasse o nível da conversa.
- Mas afinal, o que falta para um homem que aparentemente tem tudo?
- O conceito do que é tudo e do que é nada é muito relativo, não acha? Apesar de todas as pessoas serem iguais em diversos aspectos, o que as tornam diferente é, única e exclusivamente, uma questão de logística social.
- Então o que nos torna tão iguais? Diferentes? Sei lá, estou ficando confuso.
- A solidão.
- Isso responde a minha primeira pergunta?
- Talvez.
- Sei.
- Ter algo só faz sentido para quem existe de fato e de direito. E existir consiste em ter consciência de que ninguém tem nada na vida, nem sua própria vida. Assim sendo, ter significa não ter, posto que nada nos pertence. Ou seja, até aí somos solitários.
- Exato. Acho que sim. Sei lá, estou ainda mais confuso.
- Acalme-se. Tudo sempre se resolve.
- E o resto?
- O resto é uma vaga possibilidade. Possibilidade, claro, de ser feliz.
Houve silêncio depois disso. Eles sabiam que de alguma maneira o fato de não terem riqueza alguma poderia significar que tinham mais do que outros. Brindaram a este fato com outra dose seca e quente de cachaça. Depois voltaram a debater sobre outras ironias da vida menos importantes.

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